domingo, 22 de março de 2015

Aborto normal

Este parto morto
Meio resto do que não vingou
É todo mês parida tpm
Tensionado meio parto
Do resto que parte com dor
Em movimento interno
Em sangue e sujeira do que não viveu
Todo mês 
Sem ser aborto
É assim torto e meio morto
Mãe que de novo
Não nasceu
Nem matou.


Helô Ribeiro

domingo, 11 de agosto de 2013

Porta interna


Saudade eterna
bate numa porta interna.
Estamos sem chaves para entrar
é pequena a fresta para espiar
nem há meios de re-voltar.

Vejo teu relógio e
teu cinto num relicário
 ainda te sinto.
O tempo nunca passa
nunca acaba de cicatrizar.

Morrer e viver tem sido longo
como nascer, um parto
uma partida nos reparte.
 
A metamorfose desta saudade
não pára de querer voar
Vou disfarçando nesta força
nesta energia que há
daqui para lá
 de lá para cá.

Helô Ribeiro
03/08/2013



domingo, 19 de agosto de 2012



Em parafuso

Órbitas em si
A vida com tantas rotações
deixa o pensamento
em parafuso

Sistólicos e diastólicos
repetidos movimentos
De seguidos ápices
e subterrâneos momentos

Encontramos no agora
O que nunca procuramos
No divino passado,
o imaginário plano do futuro

Procuramos o inatingível
fugindo do visível
Subterfúgios do nunca satisfatório presente
Que nos faz ausentes.

Helô Ribeiro 
Ago./2012

sábado, 23 de junho de 2012


Vamos mais longe

Foi quando falei
Fique bem
Quero dispor de você
Te dou comida
bem colorida
Te lubrifico no mel
Habituo seus músculos a gingar
Vamos juntos caminhar
Você me leva e me deixa olhar
Aquilo com que eu sonhar
Garanto mais horas de sono
que de trabalho
Poupo teu fígado e pulmão
E me leva mais longe
Por mais tempo
Se couber nesta existência
todas as minhas insistências.

Helô Ribeiro
Junho.2012

sexta-feira, 15 de junho de 2012



Eu sou

Eu sou nada
E nada eu não sei entender

Eu sou tudo
E tudo não me cabe ver

A insignificância de um momento
Quer me parecer a dor do mundo inteiro

A vida toda quer ir embora num isqueiro
Mas meu corpo não caberia no cinzeiro

Quero ser livre o dia inteiro
Mas aborreço num breve momento ocioso

Desmorono osso a osso
Duas, três décadas num sopro

Numa sanfona vejo as pessoas do mundo inteiro
Aproximarem-se e despedirem-se o dia inteiro

Debaixo da pedra você pode estar mais vivo
Do que quem não se abriu pro divino.


Helô Ribeiro
26.fev.2012

quarta-feira, 4 de abril de 2012


Olhos tortos

Meus olhos turvam a realidade
As coisas estão ali
Retas, lisas, no lugar.
Basta por meus olhos nelas
Que se entortam, encrespam.
Meu olho entorta a régua
Desalinha o prumo
Amassa a seda.

O jardim não está lá
O terreno é seco, infértil.
Meus olhos astigmatizados
Floreiam tudo
Inventam cores onde é preto e branco.
Enxerga céu sob o telhado
Deixa o deserto aguado
Olhos tortos de ilusão.


Helô Ribeiro
01.abril.2012

quinta-feira, 15 de março de 2012

Homenagem ao grande amigo, Marcílio!

Deixa marcas de poeta
Por onde passa
Passa no dia da poesia
Quando marcávamos mais uma história bonita
Num varal de alegria.

Estávamos ali, novamente
Lado a lado
Pendurados...a mercê de ser lançados
Pensamentos e certezas
Que só a fina empatia alcançaria.

Hoje não é o dia da sua morte
É o dia da sua expansão
Sua arte o eterniza nesse mundo
Onde distribuiu luz e emoção.

Voa passarinho
Vai pros teus novos ninhos
Entrelaçados num plano divino
Fico com a honra e te mando meu carinho
Que os anjos guardem seus meninos.

Helô Ribeiro
14.03.2012

Saudade e imensa gratidão ao amigo e grande incentivador, Marcílio Estácio de Souza...fica com Deus.